quinta-feira, 28 de maio de 2015

A questão escolar

Os meninos estão se arrastando

Discretamente, alguns educadores irão lhe dizer que os meninos, e não as meninas, são o sexo frágil. Em 1997, eu conheci o presidente do Conselho de Educação de Atlanta, Geórgia. Quem está indo melhor nas escolas de Atlanta, as meninas ou os meninos? Perguntei “As meninas”, ele respondeu, sem hesitar. Em quais áreas? “Em todas as áreas que você citar.” Um diretor de uma escola ensino médio da Pensilvânia falou sobre a condição dos meninos em sua escola: “Estudantes que dominam as listas de evasão, de suspensão, de reprovação e outros índices escolares negativos são homens, em uma proporção ampla.”

Três anos atrás, a Scarsdale High School, no Estado de Nova York, realizou um seminário sobre igualdade de gênero para seu corpo docente, em que foi repetida toda aquela história de “as meninas estão sendo prejudicadas”, com uma notável diferença: um estudante fez uma apresentação na qual ele demonstrou evidências sugerindo que as meninas da Scarsdale High School estão bem à frente dos meninos. David Greene, um professor de estudos sociais, pensou que o estudante devia estar enganado. Porém, quando ele e alguns outros colegas analisaram os padrões do departamento de avaliação, viram que o estudante estava certo. Greene descobriu que, nas turmas de estudos sociais do Programa de Colocação Avançada, havia pouca ou nenhuma diferença nas notas dos meninos e das meninas, mas, nas turmas normais, as meninas estavam se saindo muito melhor. Ele também descobriu, a partir do diretor de esportes da escola que os times femininos tem tido mais êxitos em competições contra outras escolas do que os times masculinos. Dos 12 atletas da Scarsdale High School nomeados como atletas All-American nos últimos 10 anos, por exemplo, 3 eram garotos e 9 eram garotas. Greene saiu da escola em um cenário de completo desacordo com a visão preconceituosa dos diretores: as meninas são ambiciosas e os meninos, relativamente descontentes, estavam dispostos a se contentar com sua mediocridade.

Como todas as escolas, a Scarsdale High School foi fortemente influenciada pelo clima de crise feminina. A crença de que as meninas são sistematicamente privadas imperou no Conselho de Igualdade de Gênero da escola; essa é a razão pela qual a escola oferece aulas eletivas especiais sobre o tema. Greene tentou cautelosamente falar sobre a má performance dos meninos com seus colegas. Muitos deles admitiram, que nas turmas em que eles lecionavam, as meninas pareciam se dar melhor que os meninos, mas eles não viam tal fato como uma parte de uma ampla tendência. Depois de muitos anos ouvindo sobre as emudecidas e prejudicadas garotas, a simples insinuação de que os garotos não estavam indo tão bem quanto elas não foi levada a sério mesmo pelos professores que viam isso acontecer com seus próprios olhos durante as aulas.


Comprometimento Escolar

Um artigo de 1999 do Congressional Quarterly Researcher sobre o desempenho acadêmico de homens e mulheres chama atenção para uma experiência familiar comum: “As filhas querem agradar seus professores ao ficar mais tempo na escola, ajudando em projetos, assistindo mais aulas e fazendo os deveres de casa da forma mais caprichada possível, já os filhos fazem as tarefas de casa depressa para assim poderem brincar, não se importando como os professores verão seu trabalho descuidado.” Na linguagem técnica dos especialistas em educação, as meninas são academicamente mais comprometidas. O comprometimento escolar é uma medida essencial para o sucesso do estudante. O Departamento de Educação dos Estados Unidos avalia o comprometimento estudantil pelos seguintes critérios:

  • Quanto tempo os alunos dedicam aos deveres de casa a cada noite?
  • Eles vão à aula preparados e aptos a aprender? (Levam livros e outros materiais? Fizeram todo o dever de casa?)

Que os meninos são menos comprometidos com a escola que as meninas já havia sido bem observado pelo Departamento de Educação nos anos 80 e 90. Maiores porcentagens de meninos do que de meninas relataram que “geralmente” ou “frequentemente” vão à escola sem o material necessário ou sem ter feito o dever de casa. Levantamentos nas turmas de 4º e 8º ano do ensino fundamental e 3º ano do ensino médio registraram meninas consistentemente relatando que elas fazem mais as tarefas que os meninos. No 3º ano do ensino médio, eles são 4 vezes mais propensos a não fazerem os deveres de casa do que elas.

Aqui nós temos uma disparidade entre os sexos genuinamente preocupante, com os meninos bem atrás das meninas. Essa é a disparidade sobre a qual professores, pais, diretorias escolares e políticos devem se preocupar. O comprometimento escolar talvez seja o mais importante requisito para o sucesso acadêmico, mas os meninos com menor comprometimento não são citados nos seminários e oficinas sobre igualdade por todo o país. De fato, a chique porém falsa diferença de autoestima continua a ser a preocupação dominante – diferença que a AAUW, em sua busca para “saber mais” sobre as descobertas de Gilligan, exige que seja divulgada.

Existem alguns meios já testados de reestimular os meninos, melhorar seus hábitos escolares e instigá-los para o aprendizado e para um melhor desempenho (discutirei acerca do que funciona para eles nos próximos capítulos). Mas enquanto os problemas desses jovens não forem reconhecidos, eles não poderão ser resolvidos, e enquanto não forem resolvidos, outra disparidade educacional provavelmente persistirá: em comparação aos garotos, muito mais garotas entram nas universidades.
A disparidade no ensino superior

O Departamento de Educação dos Estados Unidos relatou que em 1996 havia 8,4 milhões de mulheres e apenas 6,7 milhões de homens matriculados nas universidades, e também demonstrou que essa vantagem aumentará ainda mais para a próxima década. De acordo com uma previsão, em 2007 haverá 9,2 milhões de mulheres nas universidades e 6,9 milhões de homens.

As feministas inventam argumentos engenhosos e oportunistas para explicar por que o maior número de mulheres nas faculdades não deve ser considerada uma vantagem para o sexo feminino. De acordo com a ensaísta feminista Barbara Ehrenreich, “Uma das razões pelas quais poucos homens estão frequentando as universidades talvez seja porque eles acham que podem se dar bem a vida sem um diploma de curso superior; em outras palavras, eles continuam tendo uma grande vantagem sobre as mulheres na fatia do mercado de trabalho que não exige uma educação formal.”

Ehrenreich está insinuando que um garoto de 17 ou 18 anos que está próximo de se formar no ensino médio, sem planos de cursar uma faculdade, pode continuar em melhores condições do que a futura universitária sentada ao lado dele. Talvez exista uma minoria de estudantes do ensino médio que sejam empreendedores, para a qual essa afirmação é verdadeira, mas para a grande maioria dos meninos um curso superior permite a entrada na classe média – sem contar os benefícios pessoais de uma graduação.

Nos últimos anos, o valor econômico de um curso de nível superior aumentou consideravelmente. Um economista do Instituto Americano de Empresas, Marvin Kosters, quantificou a tendência: “No ano de 1978, o salário médio de um adulto graduado em uma universidade era mais ou menos 25% maior do que o salário de uma pessoa que possuía apenas o nível médio. Por volta de 1995, a diferença tinha mais que dobrado para um salário médio mais de 50% maior para o trabalhador com nível superior.”

Alguém deve ter percebido que os meninos estavam ficando para trás. A disparidade no ensino superior era uma tendência perigosa e verdadeira. Mas ao mesmo tempo em que as meninas estavam superando os meninos de uma forma incrível, as feministas do Departamento de Educação, da AAUW, do Wellesley Center e da Ms. Foundation escolheram declarar a crise da “menina prejudicada”. Durante os anos seguintes, a diferença entre os sexos nas universidades continuou a crescer, mas a atenção da população americana e do governo foi direcionada para as “meninas mal servidas”.


Porque os meninos se dão melhor nos testes?

As feministas não podem negar plausivelmente que as meninas tiram melhores notas, são mais comprometidas com a escola e que agora são o sexo dominante nas universidades. Sendo assim, elas apontam para as diferenças psicológicas e sociológicas: diferenças na autoestima, na autoconfiança e no número de perguntas durante a aula. Mas isso tudo, como nós vimos, não resiste ao escrutínio. Existe um argumento melhor sendo utilizado pelos defensores da crise feminina que é baseado em um dado correto: os meninos conseguem melhores pontuações em quase todos os testes padrões importantes, especialmente nos testes considerados mais difíceis, como o Scholastic Aptitude Assessment Test (SAT) e os testes de admissão para os cursos de direito e medicina, e de pós-graduação.

Em 1996, escrevi um artigo para o Education Week relatando as várias formas pelas quais as meninas estavam tomando a frente dos meninos nas escolas e universidades. Se aproveitando dos dados que sugeriam que os meninos estavam se saindo melhor do que as meninas, David Sadker, em uma resposta, escreveu: “se as meninas estão indo bem na escola, como Christina Hoff Sommers diz, então esses testes estão totalmente errados.” Os garotos, de fato, tendem a se dar melhor nos testes que as meninas. No SAT de 1998, eles tiraram 35 pontos (de 800) a mais que as meninas, 7 pontos a mais em inglês. Sadker está certo ao insinuar que as notas um pouco maiores dos meninos são uma demonstração de seu status privilegiado?

A resposta é não. Um olhar atento ao grupo de estudantes que fizeram o SAT e outros testes do tipo revela que as notas mais baixas das garotas tem pouco ou nada a ver com preconceito ou injustiça. Certamente, elas nem mesmo significam menos resultados positivos para as garotas. Primeiramente, uma maior porcentagem de meninas participam do SAT (54%, contra 46% de meninos). Além disso, de acordo com um estudo da College Board, muito mais meninas das “categorias de risco” fazem os testes, comparado com os meninos. A saber, meninas de lares de baixa renda, ou que possuem pais que nunca concluíram o ensino médio e/ou fizeram uma graduação, fazem o SAT em maior número do que os meninos na mesma situação. “Essas particularidades”, diz o estudo, “estão associadas com as notas menores do que a média do SAT”.

Em outras palavras, devido aos meninos em situação de risco não fazerem o teste enquanto as meninas na mesma condição tendem a fazê-lo, a pontuação média feminina é menor. Ao invés de usar erroneamente as pontuações do SAT como evidências do preconceito contra as meninas, os pesquisadores devem esse preocupar com meninos que nunca comparecem aos testes que eles precisam fazer caso queiram possuir um melhor nível educacional.

No entanto, outro fator externo distorce nos resultados dos testes de forma que parece que ele favorece os meninos Nancy Cole, presidente do Serviço de Testes Educacionais, chama isso de “fenômeno de dispersão”: Em praticamente todos os testes de inteligência e de desempenho, as notas dos homens ficam mais dispersas de que as das mulheres nos extremos: há mais homens prodigiosos e também há mais homens com menores habilidades. Ou, como o cientista político James Q. Wilson uma vez disse, “Existe mais homens entre os gênios, e mais homens entre os idiotas.”

Devemos também levar em conta que os jovens do sexo masculino dominam as listas de evasão e de reprovação, e possuem maior dificuldade de aprender. Esses estudantes raramente participam de testes de alto nível. Por outro lado, os meninos aplicados que levam a sério a escola apresentam resultados desproporcionalmente acima da média. Os ativistas pela igualdade de gênero como Sadker devem ser coerentes em sua lógica: se o menor número de meninas entre as melhores notas é uma evidência de uma “injustiça” para com elas, o grande número de meninos entre as menores pontuações e deve ser considerada uma evidência de “injustiça” para com eles.

Suponha que nós estivéssemos direcionando a nossa atenção para os 2/5 de estudantes enormemente motivados do ensino médio, que participaram voluntariamente do SAT ao invés de considerar uma amostra realmente representativa dos estudantes americanos. Como se compararia as meninas e os meninos, então? O Programa de Avaliação Nacional do Progresso Educacional (NAEP), iniciado em 1969 e gerido pelo Congresso Americano, oferece a melhor e mais compreensiva avaliação do desempenho dos estudantes de todos os níveis de habilidade. Pelo programa da NAEP, uma grande amostra científica de 70.000 a 100.000 estudantes de 44 estados americanos têm suas habilidades em leitura, escrita, matemática e ciências testadas aos 9, 13 e 17 anos (A escala de pontuação da NAEP varia de 0 a 500). Em 1996, os meninos de 17 anos superaram as meninas por 5 pontos em matemática e por 8 pontos em ciências, enquanto as elas os superaram por 14 pontos em leitura e por 17 pontos em escrita. Ao longo das últimas duas décadas, as meninas estiveram se aproximando dos meninos em matemática e ciências, enquanto eles continuam a ficar muito atrás em leitura e escrita. Essa é, portanto, uma diferença que não está diminuindo.



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