sábado, 13 de junho de 2015

A experiência britânica e algumas verdades inconvenientes


No Reino Unido, não existe ninguém como Carol Giligan, Mary Pipher, ou uma instituição como a AAUW. Portanto, não surpreende o fato de que lá a verdade objetiva acerca da má performance masculina nas escolas seja divulgada para a população. Por mais de uma década, os jornais britânicos relatam o incômodo deficit escolar dos estudantes. O Times, de Londres, chamou atenção para a possibilidade de estar se formando “uma subclasse de homens sem habilidades, permanentemente desempregados.” “O que há de errado com os meninos?”. Questionou o Glasgow Herald. O The Economist se referiu aos homens como o “segundo sexo do futuro”. No Reino Unido, a população, o governo e as instituições de ensino estão bem cientes do crescente número de meninos com desempenho abaixo da média, e estão buscando formas de como ajudá-los. Eles deram um nome para esses garotos - “grupo náufrago” - e chamam o que aflige esses jovens de “ladismo”.

A mais impressionante diferença entre o Reino Unido e os Estados Unidos talvez sejam as políticas governamentais. Enquanto o governo britânico está combatendo e lidando corretamente com o fraco desempenho acadêmico masculino, considerando-o um sério problema nacional, as autoridades americanas estão se comportando como uma linha auxiliar da AAUW, seguindo obedientemente as diretrizes políticas das feministas, incluindo as iniciativas para aumentar a autoestima das meninas e ajudá-las a reencontrar suas “vozes”. O Departamento de Educação dos Estados Unidos distribuiu mais de 300 panfletos, livros e anúncios sobre igualdade de gênero, e nenhum deles tinha o objetivo de ajudar os meninos a alcançar a paridade com as garotas nas escolas do país. Enquanto o drama dos meninos vem crescendo, sem qualquer expectativa de melhora, os programas que visavam ajudar as meninas só se multiplicavam. A mais nova iniciativa se chama Girl Power! Em 1997, a secretária de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos, Donna Shalala, lançou o Girl Power! para promover a conscientização da população a respeito da desmoralização das meninas americanas. A Fundação Nacional de Ciência gasta milhões de dólares a cada ano ao oferecer programas de ajudar as meninas em ciências e matemática. Já a ideia de se ministrar aulas extras de leitura e escrita especialmente para os meninos nunca sequer passou pela cabeça das feministas. Os garotos são o gênero em risco, mas ninguém está pedindo dinheiro para enfrentar esse déficit acadêmico.

Nesse clima tão inóspito para os meninos, os educadores americanos que desejam ajudá-los se deparam com enormes obstáculos. No Condado de Prince George, em Maryland, próximo a Washington D.C., há um grande número de escolas públicas, onde a maior parte dos alunos são negros e pobres. De acordo com um membro da direção de uma das escolas, muitos dos meninos “estão por baixo em todos os sentidos, em todos os indicadores econômicos e em todos indicadores de desenvolvimento.” Para ajudar esses garotos, o condado organizou uma “Iniciativa de Desempenho para Homens Negros”. No início dos anos 90, aproximadamente 40 homens jovens se encontravam duas vezes por mês com um grupo de profissional de homens para tutoria e aconselhamento. O programa foi muito popular e efetivo, mas em 1996 ele foi radicalmente reestruturado por ordem do Gabinete de Direitos Humanos do Departamento de Educação. Segundo o Departamento, o programa discriminava as meninas. A mulher que presidia a comissão de diretorias das escolas do Condado de Prince George ficou muito satisfeita: “O ponto aqui é que nós estamos prejudicando as estudantes, e não deixaremos isso acontecer de novo.”

Nos Estados Unidos, as ideias propostas para ajudar a população masculina normalmente são ceifadas antes mesmo de terem a chance de criar uma raiz. Em 1996, as escolas públicas da cidade de Nova York fundaram a Escola de Liderança para Jovens Mulheres, uma escola pública só para meninas em East Harlem. A escola é um grande sucesso e muitos veículos de comunicação, incluindo o The New York Times, pressionaram então ao então secretário de educação Rudy Crew para que também fosse criado um “centro de excelência para os meninos”. Crew rejeitou a ideia de uma escola apenas para garotos nos mesmos moldes da Escola de Liderança, se referindo a ela como uma forma de reparo às práticas educacionais do passado, que negligenciavam as garotas, o que faz com que escolas exclusivamente femininas sejam moralmente admissíveis. Como ele disse ao Times, “Essa é uma situação onde a existência de colégios só para meninas são uma importante afirmação sobre viabilidade da educação das meninas, e quero continuar a fazer essa afirmação.” Presumivelmente, tal afirmação perderia toda a sua força e sentido se uma escola exclusivamente masculina fosse mantida ao mesmo tempo.

Que mensagem esse tipo de declaração passa aos meninos de East Harlem? Para começar, mulheres afro-americanas superam enormemente os homens afro-americanos em números de estudantes nas instituições de ensino superior. De acordo com o Jornal dos Negros na Educação Superior, “As mulheres negras nos Estados Unidos respondem por quase todas as conquistas de negros inscritos em universidades pelos últimos 15 anos.” Em 1994, por exemplo, as mulheres afro-americanas obtiveram 63% dos diplomas de bacharelado de 66% dos de mestrado obtidos pelos afro-americanos naquele ano. Nas universidades historicamente negras, as mulheres abrangem 60% das matrículas, e compõem 80% do quadro de honra, e as disparidades estão aumentando.

O que aconteceu com os homens negros entre as décadas de 80 e 90? Essa seria outra questão suscetível a uma análise minuciosa durante uma conferência da PEN, e deveria ter sido levada a sério pelo secretário Crew. Mas, nos ciclos de discussão sobre igualdade de gênero, essa questão é de menor importância, se não um tabu.


A verdade sobre os meninos

A despeito do clima anti-masculino criado pelas feministas, a preocupação para com a situação dos garotos estava aumentando, e no fim dos anos 90 o mito da menininha frágil estava sendo desmascarado. Artigos sobre os déficits educacionais masculinos começaram a surgir nos jornais americanos com manchetes muito parecidas com essas, que apareciam na imprensa britânica: “As universidades americanas começam a se perguntar, para onde foram os homens?”, “Como os garotos perderam para o poder feminino”, “Pesquisas mostram que as meninas tomaram a dianteira nas escolas”, e “Meninas superam os meninos em performance escolar.” Estudos mostrando a existência de uma grande disparidade de gênero na educação desfavorável aos meninos começaram a emergir. Foi nessa época que a mídia tomou ciência do que estava ocorrendo.

A associação Horatio Alger, uma organização que há 50 anos se dedica à promoção e à afirmação da iniciativa individual e do “sonho americano”, publicou uma pesquisa sobre rendimento escolar em 1998. O estudo contrastou 2 grupos de estudantes: os altamente “bem sucedidos” (aproximadamente 18% dos estudantes americanos) e os “desiludidos” (aproximadamente 15% dos estudantes). Os estudantes do grupo bem sucedido trabalham duro, escolhem assistir às aulas mais desafiadoras, fazem do dever de casa uma prioridade, tiram boas notas, participam de atividades extracurriculares e sentem que seus professores se preocupavam com eles e os ouvem. De acordo com o relatório, o grupo bem sucedido é composto em 63% por meninas e em 37% por meninos. Por outro lado, os estudantes desiludidos são pessimistas a respeito de seu próprio futuro, tiram notas baixas, possuem o menor contato possível com seus professores, e acreditam que “não existe ninguém a quem eles possam pedir ajuda.” O grupo desiludido poderia ser acertadamente caracterizado como desmoralizado. Segundo o estudo, “aproximadamente 7 em cada 10 estudantes desse grupo são meninos.”

Na primavera de 1998, Judith Kleinfeld, uma psicóloga da Universidade do Alaska, publicou uma minuciosa crítica sobre as pesquisas das feministas denominada The myth that School Shortchange Girls: Social Science in the Service of Deception. Kleinfeld expôs vários erros e concluiu que a pesquisa da AAUW e do Wellesley Center sobre as garotas era pura “política travestida de ciência.” O relatório de Kleinfeld levou muitos jornais, incluindo o The New York Times e o Education Week, a reconsiderarem suas antigas declarações acerca das meninas que estavam em situação trágica.

A AAUW não respondeu adequadamente a nenhuma das significativas objeções feitas por Kleinfeld: Ao invés disso, sua presidente, Maggie Ford, reclamou na coluna de cartas do The New York Times que Kleinfeld estava “reduzindo os problemas de nossas crianças a essa insignificante disputa de 'quem está pior, os meninos ou as meninas?' que não nos leva a lugar nenhum.” Para a líder de uma organização que passou quase uma década promovendo a ideia de que as meninas americanas estão sendo “prejudicadas”, esse comentário é um tanto surpreendente.

A diretora executiva da associação, Janice Weinman, deu uma explicação mais sincera para a persistente negligência dos problemas masculinos pela AAUW: “Nós somos a Associação Americana de Mulheres Universitárias”, disse ela, “e nossa missão é cuidar da educação de meninas e mulheres.” Essa seria uma justificativa plausível, caso as feministas não tentassem incansavelmente promover a ideia de que os meninos estavam injustamente em vantagem, enquanto as meninas eram neglicenciadas. A AAUW não simplesmente ignorou os problemas dos garotos, ela também se recusou a reconhecê-los, treinando professores, durante sua Conferência de Lideranças, para que se defendessem de questionamentos a respeito dos déficits masculinos, e comparando aqueles que questionassem o preconceito contra as meninas a “revisionistas do holocausto” em suas publicações.

Nesse contexto, deveria se salientar que, enquanto Gilligan e a AAUW criaram e divulgaram com sucesso o mito da menina emudecida, tal mito jamais se fez presente entre os próprios estudantes. A AAUW estava ciente de que a maneira pela qual os estudantes pensavam em si mesmos e em seus professores não estava de acordo com o discurso oficial apresentado ao público. Analisando as opiniões e experiências de estudantes de ambos os sexos, a AAUW descobriu que são os meninos que se sentem rejeitados e, as meninas que se sentem beneficiadas pelos professores. Mas, evidentemente, os seus líderes não consideraram como missão da associação a publicação dessas descobertas nos folhetos que anunciaram a grandiosa tragédia feminina.

Mas será que algo de valor pode ser retirado dessa crise feminina criada em laboratório? Existem alguns pontos positivos. Pais, professores e diretores estão agora mais atentos às dificuldades das meninas em matemática e ciências, e oferecem mais apoio às participações delas em equipes esportivas. No entanto, esses benefícios poderiam e deveriam ter sido obtidos sem que se promulgasse um mito sobre meninas incrivelmente diminuídas ou se apresentasse os meninos como o sexo injustamente privilegiado.

Um garoto hoje, mesmo não tendo nenhuma culpa, acredita que ele próprio cometeu o crime de “causar prejuízo” às meninas. Já a supostamente emudecida e maltratada garotinha sentada ao lado dele tem maiores chances de ser uma boa aluna. Ela não é apenas mais articulada, mas também é uma pessoa mais madura, compromissada e equilibrada. Ele talvez esteja embaraçosamente ciente de que as meninas são mais suscetíveis de irem para as universidades, e talvez ele acredite que seus professores preferem estar rodeados de meninas, dando atenção a elas. Ao mesmo tempo, ele está embaraçosamente ciente de que ele é considerado membro de um “gênero dominante” injustamente privilegiado.

Os meninos americanos estão sendo deixados para trás por seus pares femininos, academicamente falando. Para ajudá-los, o primeiro passo a ser dado deve ser a demonstração de repúdio ao feminismo militante, que distorce a questão ao inventar mil e uma mentiras a respeito das diferenças entre os sexos nas escolas. O próximo passo é fazer todo o esforço possível para que seja feita uma indispensável análise, com dados honestos e objetivos, sobre a natureza e as causas dessas diferenças. No entanto, nenhum passo pode ser dado enquanto a falaciosa campanha feminista ainda possuir qualquer tipo de crédito com a opinião pública.

A mídia e as instituições de ensino podem ajudar divulgando os estudos do Departamento Americano de Educação, da MetLife, do Instituto de Pesquisa e da Associação Horatio Alger, bem como as pesquisas acadêmicas feitas por Larry Hedges e Amy Nowell, por Judith Kleinfeld e por Valerie Lee e seus parceiros. Todos esses estudos expõem as mentiras disseminadas pelas feministas, e todos mostram que o termo “meninas prejudicadas”, tão usado por elas, não passa de uma piada.

É chegada a hora da população americana tomar ciência das descobertas que suplantam e contradizem a visão normalmente aceita de que as meninas estão academicamente atrás dos meninos. Devido ao fato da população britânica ser melhor informada acerca de seus jovens, as escolas britânicas deram um primeiro passo importante ao criar programas com o objetivo de tirar os meninos da categoria de “desiludidos” e lidar com seu insucesso crônico. Nós temos muito a aprender com tais iniciativas e com a saudável e sensata abordagem feita para resolver um problema que eles corretamente veem como uma emergência nacional. No entanto, até o momento, os problemas dos meninos são invisíveis.

O que está por vir?

Os teóricos do gênero e ativistas que no passado tinham pouco a dizer sobre os meninos recentemente começaram a nos dizer que eles também precisam de atenção – não porque as escolas estão sendo negligentes com as necessidades acadêmicas deles, mas porque, “sob o patriarcado”, homens são familiarizados com comportamentos masculinos destrutivos. Especialistas de gênero de Havard, Wellesley, Tufts e das principais organizações feministas acreditam que nossos meninos e homens continuarão a ser sexistas (e potencialmente perigosos) a não ser que esse mal convencional seja arrancado deles. Pode ser que seja tarde demais para mudar os adultos: mas os meninos, por outro lado, ainda podem ser salvos – desde que sejam doutrinados desde cedo. Tal tipo de pensamento é um desafio que muitos dos defensores da “igualdade” estão ansiosos para enfrentar. Como uma importante oradora em um seminário de especialistas em igualdade de gênero disse à sua audiência, “Nós temos uma incrível oportunidade, crianças são tão maleáveis...”.

A crença de que os meninos estão sendo erroneamente “masculinizados” está inspirando um movimento para “construir a infância” de modo que os garotos se tornem menos competitivos, mais expressivos emocionalmente e mais sensíveis - em outras palavras, mais parecidos com meninas. Gloria Steinem resume a visão de muitas feministas quando diz: “Nós precisamos criar os meninos como criamos meninas”.

A agenda feminista não é uma utopia fantasiosa. Na verdade, como demonstrarei, um movimento para a destruição da masculinidade já está em andamento, obtendo razoável sucesso. E, como muitas outras bem-intencionadas mas mal concebidas reformas e revoluções, esse movimento tem enorme potencial para fazer de muitas pessoas - nesse caso, milhões de jovens - infelizes e miseráveis.

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