Na
edição de 7 de julho de 1995 da revista Science,
Larry Hedges e Amy Nowell, pesquisadores da Universidade de Chicago,
observaram que as deficiências femininas em matemática eram
pequenas, mas não insignificantes. Eles perceberam que essas
deficiências poderiam afetar adversamente o número de mulheres que
“se sobressaem em cargos técnicos e científicos”. Quanto às
habilidades de escrita dos meninos, eles escreveram que “A grande
diferença entre os sexos na escrita... é alarmante. Tais dados
insinuam que os homens, em média, estão em uma profunda desvantagem
na performance dessa habilidade básica”. Hedges e Nowell continuam
com o aviso, “Os números normalmente maiores de homens com os
piores resultados na leitura e na escrita também possuem implicações
políticas. Parece provável que os indivíduos com tais habilidades
tão mal desenvolvidas terão dificuldade em conseguir um emprego em
uma economia cada vez mais regida pela informação. Então, alguma
intervenção pode ser necessária para permiti-los a participar da
sociedade construtivamente.”
Hedges
e Nowell descreveram um sério problema de dimensão nacional, mas
devido ao foco ter sido direcionado exclusivamente às deficiências
femininas, esse não é um problema que os americanos conhecem muito
sobre ou mesmo suspeitam que exista. É muito difícil olhar para os
dados escolares de adolescentes ou os mais recentes dados sobre os
estudantes universitários sem chegar à conclusão de que as meninas
e as mulheres jovens estão prosperando, enquanto suas contrapartes
masculinas estão definhando.
Em
1995, talvez em reação às críticas – de um crescente número de
pesquisadores que não se deixaram ser enganados – a AAUW
encomendou um estudo mais sério sobre o desempenho acadêmico dos
sexos.
Esse estudo, denominado
The
Influence of School Climate on
Gender
Differences in the Achievement and Engagement of Young Adolescents,
feito pela professora da Universidade de Michigan Valerie E. Lee e
seus associados, foi publicado sem a costumeira fanfarra com que a
AAUW anuncia suas pesquisas, e isso não surpreende. O estudo de Lee
sugere intensamente que os relatórios anteriores sobre uma trágica
desmoralização que as jovens americanas vêm sofrendo têm sido
muito exagerados.
Lee
e seus parceiros de pesquisa analisaram dados sobre o desempenho e
comprometimento escolar de mais de 9.000 meninos e meninas do 8o
ano e descobriram que as diferenças entre eles poderiam ser
classificadas de “pequenas a moderadas.” Além do mais, o padrão
das diferenças de gênero não possui uma “direção consistente”.
Em algumas áreas, as meninas se sobressaem. Em outras, os meninos
são melhores. O estudo também mostrou que as meninas são mais
comprometidas academicamente que os meninos: elas estavam melhor
preparadas para assistir às aulas, possuíam melhor histórico de
presenças, e evidenciavam um comportamento acadêmico mais positivo,
em sua totalidade.
As
conclusões sensatas de Lee na pesquisa patrocinada pela AAUW se
basearam nos dados do Departamento de Educação dos Estados Unidos e
eram totalmente coerentes com as descobertas de Hedges e Nowell. Mas
eles estavam em desacordo com o distorcido quadro que a AAUW tinha
vendido anteriormente com sucesso para o público americano e para o
Congresso. Lee concluiu que “A opinião pública acerca das
questões dos gêneros nas escolas precisam sofrer algumas
mudanças... A desigualdade pode (e faz) a diferença em ambas as
direções.” No tanto quanto me foi possível verificar, o estudo
objetivo e competente de Valerie Lee não foi citado em nenhum
jornal.
A
AAUW não gastou 150.000 dólares divulgando a pesquisa de Lee, e nem
mesmo suavizou sua própria retórica sectária. Pelo contrário, as
visões discordantes provocaram uma grande ira na associação, que
se tornou abusiva. Na primavera de 1997, o boletim da AAUW, o AAUW
Outlook atacou os “revisionistas
do preconceito de gênero” que, “como John Leo, Christina Hoff
Sommers e outros colunistas locais”, questionaram o mito da
menininha frágil: “Todos nós já ouvimos a histórias
revisionistas. Sempre haverá aquelas pessoas que insistirão que o
Holocausto não aconteceu... Os revisionistas frequentemente
distorcem os fatos tão profundamente que eles assumem a história de
uma forma que ela perde toda a sua semelhança com a realidade.”
No verão de 1997, a AAUW
seguiu com os ataques aos seus críticos com uma “Conferência de
Lideranças” que durou 4 dias, na qual a assessoria de comunicação
da associação treinaram 30 professores e outros “defensores da
igualdade” com estratégias de como lidar com os “revisionistas
na mídia e em outros lugares. Eu fui a uma das sessões na sede da
AAUW, em Whashington D.C. (Eu não era uma pessoa bem-vinda ali e, em
um dado momento, pediram educadamente para que eu me retirasse). Fora
da sala onde ocorria a conferência, havia mesas cheias de
lembrancinhas sobre meninas em cirse. Os professores poderiam comprar
“ursinhos de pelúcia da igualdade”, canecas de café, e camisas
com o slogan “Quando nós prejudicamos as meninas, prejudicamos a
América”. Também havia broches com os dizeres “Eu sou uma
estrela”, voltados para as meninas com baixa auto-estima.
A assessoria da AAUW preparou
os professores para lidar com questões sobre os meninos. Em um
seminário de treinamento especial denominado “Porque focar nas
Garotas?”, os professores ensaiaram suas respostas aos
questionamentos sobre os meninos e a equipe da AAUW criticou a
performance. Um dos “treinadores da igualdade” aconselhou aos
professores para que eles usem “as palavras e frases chaves da
AAUW” tanto mais quanto possível – especialmente a preferida
deles, “meninas prejudicadas”. Os treinadores pediram para que os
professores praticassem usando uma “linguagem confiante”, com
expressões como “a pesquisa mostra que.”
Embora a sede da AAUW onde
essa conferência ocorreu estivesse no epicentro do movimento da
crise feminina, alguns dos professores que participaram estavam
temerários de defender tais ideias na frente de meninos. Uma jovem
professora de Baltimore relatou que em sua escola os garotos eram tão
vulneráveis quanto as garotas - “se não mais”. E, em uma
discussão sobre como defender do caráter exclusivamente feminino da
prática de se levar as filhas para o serviço no dia do trabalho, 4
professores protestaram, dizendo que os meninos também deviam ser
incluídos. Em ambos os casos, os especialistas em igualdade da AAUW
suavemente trouxeram o foco da discussão de volta para as meninas.
Outras
observações discordantes
As feministas amam se reunir
em grupos para contar histórias sobre como as garotas estão sendo
prejudicadas. Em novembro de 1997, a Rede de Educação Pública
(PEN), um conselho de organizações que ajudam as escolas públicas,
patrocinou uma conferência denominada “Gênero, Raça e Desempenho
Estudantil”. Os principais nomes que participaram da conferência
foram Carol Gilligan e Cornel West, um professor de estudos
afro-americanos e filosofia da religião na Universidade de Harvard.
Gilligan falou sobre como as meninas e mulheres “perderam suas
vozes”, como elas “foram inferiorizadas” na adolescência, e
como professoras são “nulas”, tendo sido “emudecidas” pela
“estrutura patriarcal” que domina nossas escolas. Cornel West
falou sobre a necessidade que ele teve de superar seus próprios
sentimentos de “supremacia masculina.”
Durante
um período de três meses em 1997, 1.306 estudantes e 1.305
professores das turmas do sétimo ano do ensino fundamental ao
terceiro ano do ensino médio responderam várias perguntas sobre
igualdade de gênero. O estudo da MetLife não foi encomendado por
nenhuma organização feminista, logo ele não tinha uma cartilha
doutrinária a seguir. Portanto, o que se descobriu contradizia em
grande parte as “descobertas” da AAUW, dos Sadkers e do Wellesley
Center. Foi dito, educadamente, que: “Ao contrário da visão,
muito comum, de que os meninos possuem vantagem sobre as meninas,
elas parecem estar à frente deles em termos de planos futuros,
expectativas por parte dos professores, experiências escolares e
interações em sala de aula.”
Aqui
estão algumas outras conclusões do estudo da MetLife:
*
Garotas são mais suscetíveis do que os garotos de visualizar a si
mesmas como futuras universitárias.
*
Elas também são mais suscetíveis do que eles de querer possuir uma
boa formação.
*
Mais meninos do que meninas (31% contra 19%) sentem que os
professores não ouvem o que eles tem a dizer.
O
relatório da MetLife advertiu a um auditório lotado de admiradores
de Carol Gilligan que os garotos americanos necessitam de mais
atenção do que as garotas. Os participantes estavam ouvindo –
muitos pela primeira vez – que o discurso convencional dos estudos
que mostram “meninas perdendo sua auto-confiança... e como
resultado tendo piores desempenhos” na escola era uma simples
mentira. Essa deveria ter sido uma grande notícia para uma mídia
completamente tomada pelas descobertas acerca do trágico destino das
garotas americanas. Mas em qualquer assunto onde as garotas estão
envolvidas, boas notícias não são notícias.
Ocorreram
outras observações discordantes expostas na conferência. Durante
uma roda de debates sobre questões de gênero e raça nas escolas,
um palestrante, que leciona em uma rigorosa escola pública de ensino
médio de Washinton D.C., disse que lá é tão raro um menino ir bem
nos estudos que “é um grande feito quando um garoto conseguia
ingressar numa sociedade de honra ou ganhar algum prêmio”. Ninguém
se atreveu a comentar sobre isso.
Em
outra sessão, com o nome de “Como as experiências escolares de
meninos e meninas diferem?” Nancy Leffert, uma psicóloga infantil
do Instituto de Pesquisa de Minneapolis, demonstrou o resultado de
uma grande pesquisa que ela e seus colegas fizeram recentemente com
mais de 99.000 estudantes do 6o ano do ensino fundamental
ao 3o ano do ensino médio. Os jovens foram questionados
sobre seus “ativos de desenvolvimento”. O Instituto de Pesquisa
identificou 40 ativos essenciais (“pedras fundamentais para o
desenvolvimento sadio”). Metade deles eram externos - por exemplo,
uma família presente, adultos servindo de modelos comportamentais –
e metade eram internos – motivação para conquistar seus
objetivos, senso de propósito na vida, confiança para manter
relações interpessoais. Leffert explicou aos expectadores da
palestra, de uma forma laudatória, que as meninas estão à frente
dos meninos em 34 dos 40 ativos! Em quase todos os parâmetros mais
importantes de bem-estar, elas estão melhores que eles: se sentem
mais próximas de suas famílias, tem maiores aspirações e laços
mais fortes com a escola – possuem até mesmo uma maior
assertividade. Leffert concluiu sua palestra dizendo que antigamente
ela se referia às meninas como frágeis e vulneráveis, “mas se
você der uma olhada [na nossa pesquisa], ela mostra que as meninas
possuem ativos muito poderosos.”
O
estudo original da AAUW, tão eficazmente promovido, foi baseado em
um levantamento de dados de 3.000 crianças. O estudo do Instituto de
Pesquisa que Leffert sintetizou em sua palestra era incomparavelmente
mais confiável – foi baseado em uma amostra contendo quase 100.000
estudantes. Esse grandioso estudo definitivamente atestou que a
premissa da menina prejudicada – na qual a conferência da PEN se
apoiava – era falsa.
Ainda
assim, ninguém chamou a atenção dos conferencistas para esse fato.
O suposto destino trágico das meninas em nossa “sociedade sexista”
continuou sendo o pensamento dominante. Leslie Wolfe, presidente do
Centro para Estudos Políticos Femininos em Washington D.C.,
denunciou o “currículo sexista oculto” das escolas. “Nós
devemos ensinar os meninos que a supremacia masculina é
inaceitável”, disse ela. Outros palestrantes foram adiante,
defendendo ideias como o “empoderamento feminino” e a
“demonstração de estratégias na sala de aula para melhorar o
desempenho e comprometimento das meninas”. Além disso, David
Sadker participou de um debate no qual ele descreveu “o oceano do
preconceito de gênero [contra as meninas, nunca o contrário] que
existe à nossa volta.”
A
visão “oficial”, descompromissadamente articulada pelo então
presidente da AAUW Jackie DeFazio em 1994, tem de ser constantemente
questionada pelas escolas e universidades: “Meninas continuam
recebendo uma educação desigual em nossas escolas. Não importa em
quais aspectos os jovens são analisados - pontuações de testes,
desempenho em sala e averiguação dos métodos de ensino – estudo
atrás de estudo, nos fica mais claro que as meninas não estão
alcançando seu potencial como os meninos o fazem.” (essa última
parte é muito enfatizada).
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