Sniper Americano (2014) |
Finalmente
consegui assistir ao filme American Sniper e descobri do que todo
aquele burburinho se tratava. Enquanto escrevo isso, o filme já
arrecadou
mais de 200 milhões de dólares na sua segunda semana de
estréia, tornando-o o maior lançamento de janeiro de todos os
tempos, e o mais badalado filme de guerra de todos os tempos.
O
cinema estava lotado quando estive lá na matinê. Em termos de
mobilizar adultos para se acomodar em um cinema lotado para assistir
um filme – e não apenas acompanhar crianças – a última vez que
me lembro de um filme ter conseguido tal feito de lotar os cinemas
continuamente foi quando A Paixão de Cristo teve seu
lançamento mundial.
Inquestionavelmente
o filme está agradando o público. A razão é óbvia, uma
vez que você o tenha isto. American Sniper nos mostra a
Guerra do Iraque pelo ponto de vista dos americanos que a lutaram. Os
soldados que foram a guerra e as famílias que os enviaram, as quais
ficaram com os corações no limbo durante um ano – é nessa
realidade que somos convidados a entrar. Vemos as pessoas não como
vítimas, não como predadores cegos, não como peões sem substância
num entretenimento moralizador, mas simplesmente como eles são.
Nós
os vemos de fato, como eles são. Esses são os americanos como os
conhecemos. Na vida real, nós reconhecemos o que há de ordinário
em cada um. Conhecemos os arquétipos que nos são apresentados, e
não consideramos de mau gosto; consideramo-os normais – até mesmo
ótimos.
A
reação
histérica da esquerda ao filme é explicada pelo modo como
American Sniper valida o ponto de vista do cidadão americano comum
sobre o ocorrido. Considere a parte inicial do filme, quando
assistimos Chris
Kyle ainda criança aprendendo com o pai: aprendendo a atirar,
aprendendo a ética do chamado protetor. Clint Eastwood [o diretor]
mostra essa passagem brevemente, indo direto ao ponto,
propositadamente mas sem sentimentalismo. Ele deixa as coisas como
são – como foram na vida de Chris Kyle – contando com o
espectador para absorver e interpretá-la a vontade.
Essa
é a quintessência do modo masculino de comunicação. O pacote
inteiro – o conteúdo e o método de apresentá-lo – são o que a
esquerda tem se empenhado em diminuir, distorcer e vilanizar nos
últimos 100 anos. Esquerdistas são levados a atacar esse tipo de coisa; quando
estão escrevendo histórias ou fazendo filmes, eles tem de
“contextualizar” e desnaturalizar isso, com ironia e cinismo,
imputando hipocrisia ou moralismo ideológico. Eles
mal podem deixar tal coisa passar em branco.
Isso se deve, em parte, por que quando este tipo de coisa é deixado a própria sorte,
apresentado como nada mais ou nada menos do que é de fato, os
americanos respondem a isso com um entusiasmo assertivo.
Um
número de coisas me impressionaram durante o filme, mas vou
mencionar apenas algumas. Assista ao filme. Isso
mesmo: Vá, assista. Bradley Cooper está impecável como
Chris Kyle. Eu dúvido que você ache um gesto ou entonação fora do
contexto. Não tenho certeza se eu escalaria Sienna Miller como Taya
Kyle, mas ela me convenceu no papel. Sammy Sheik como Mustafa, o
atirador olímpico e sniper adversário, está excelente em um papel
quase sem falas. Eastwood fez um ótimo trabalho com os sets de
filmagem e a produção; o ambiente de combate no Iraque parece
realista, ao invés de algo esquisito e fantasioso (um conceito de
cinematografia do qual estou de saco cheio). O resultado é
impressionante, o que já é um alto prêmio.
A
guerra do Iraque como a vimos
Vamos
direto ao ponto. Primeiro, como o título sugere pareceu-me ao
assistir American Sniper que esse filme é sobre a Guerra do
Iraque e que trata justamente disto, como foi percebida e vivida
pelos Americanos. A guerra do Iraque era sobre combater a ameaça
terrorista na nascente, impedindo-a de chegar até a América. Essa é
a narrativa básica passada na cabeça do americano mediano. Essa era
a narrativa que se passava na cabeça de Chris Kyle.
Clint
Eastwood não precisou elaborar o ocorrido no filme. Ele compreendia
que isto já estava dentro da mente do seu público. O vilipêndio da
esquerda sobre o conceito de guerra, forjado em muitos outros filmes
sobre a Guerra do Iraque, é desagradável e continuará sendo.
Ninguém quer assistir a um filme apesar dos horrores da guerra sem
deixar os soldados estarem lá sem uma boa razão. Até o heroísmo
tem seus limites, isso não se dá por nada.
O
grande segredo desse filme é que a audiência que lotou as salas de
cinema continuamente, dia após dia, sabe que houve um motivo para a guerra. Minha opinião é de que maioria das pessoas foi ambivalente
nos importantes aspectos da guerra: algo relevante, como sua
constitucionalidade, ou o Iraque como a prioridade da vez, ou os
distúrbios precedentes de uma invasão e na mudança de regime de
tal escala. Não é um jingoismo descerebrado ocorrendo. É uma
questão de decisões difíceis de se tomar em face de tamanha
ameaça, ambivalência e incerteza.
O
papel de Chris Kyle lá é o papel pelo qual passamos durante o nosso
ciclo de vida. Ele foi um jovem recrutado e enviado para a
Guerra. Ele foi também, um jovem que optou por ir porque – na
concepção de seu pai – ele não era uma ovelha ou um lobo, mas um
cão de guarda. Ele estava lá para proteger.
A
guerra como um rito de passagem
Isso
me leva a segunda coisa que me impressionou enquanto a trama se
desenvolvia. Cada pessoa teve de decidir – se a escolha fica sendo
dela – quando sua vigília como cão de guarda é completada. A
guerra, a necessidade dela, o estado de espírito para tal, é parte
da vida; e não o contrário. Clint Eastwood apresenta a realidade
como ela de fato é, ao invés de tentar editar a história para
fazê-la parecer um abismo mítico: algo do qual ninguém consegue
retornar.
Nós
vemos os horrores da Guerra nesse filme. Nós vemos os erros táticos
que prejudicaram nossas operações no meado dos anos 2000. Eastwood
não as maqueia. O telespectador se lembra, ao se deparar com essas
coisas, a qual é uma história da vida, e não haverá um milagre de
última hora com uma música tema.
Mas
Eastwood não tenta nos empurrar um pacote ideológico moralizador
sobre a Guerra. Os homens de fato planejam e conduzem a Guerra. Eles
vem e voltam dela. A historia verdadeira do nosso envolvimento
no Iraque reflete isso, assim como Chris Kyle reflete isso. Eastwod
assim o permite no filme.
Quando
um homem sabe que a sua parte no trauma humano da guerra especializada e visceral terminou? A realidade é que maioria dos nossos voluntários
não encaram o ponto de transição como vitimas indefesas. Eles o
encaram como homens ou mulheres carregando feridas, mas
fazendo decisões de uma complexidade que compreende o passado e o
futuro da humanidade. Eastwood retrata isso como o é de fato: não
uma patologia mas uma passagem que requer sabedoria, busca e talvez
uma consulta com Deus. (Complementando, os diálogos de Chris Kyle
com os veteranos de guerra com quem serviu depois do seu retorno pra
casa são umas das melhores cenas do filme, sem afetações mas
marcantes.)
Definindo
a perícia do sniper
Mais
uma coisa que mencionarei aqui. Talvez isso tenha me escapado por eu
conhecer muitas pessoas que atualmente estão se familiarizando com
armas de fogo e a atirar. Bem cedo no filme, o pai de Chris Kyle
recita o provérbio, “mire pequeno, erre pequeno.” Aqueles que
aprenderam a atirar sabem que isso é mais do que uma forma de
encorajamento; isso é o “diferencial.” Quando você tem a sua
arma empunhada de forma correta e a conhece bem, então quanto menor
o alvo que você têm em mira, menor a margem de erro, com todas as
coisas dentro das proporções.
Considero
a escolha de Eastwood de esclarecer isso brevemente, numa cena onde o
alcance da arma é rápido o suficiente para evitar algo tipo um
“documentário,” é uma tacada de mestre. Faz sentido esclarecer
esse ponto em um filme sobre um sniper, é óbvio. Recordo-me de Mel
Gibson em The
Patriot, em que seu personagem
de guerra revolucionário, Benjamin Martin ouve seus filhos recitando
o mesmo adágio antes de prepararem uma armadilha para as tropas
britânicas. O filme de Gibson confiou na capacidade de compreensão
dos espectadores. Mas o Sniper o explica, e ajuda aos espectadores
leigos em tiro a notar que há uma certa técnica aqui: uma
disciplina real, cultivada com um propósito.
Ao
fazer isso, o pequeno trecho preenche a lacuna entre a realidade e a
lenda. American Sniper não é um filme sobre tiros impossíveis.
Deixando o público a par da técnica é um jeito sutil de
estabelecer parâmetros. American Sniper é um filme sobre
“vigilância.” No nível a que se refere aos detalhes táticos
que homens como Kyle e ele próprio foram designados a fazer durante
várias semanas a fio, dando suporte aos fuzileiros navais na
patrulha de infantaria com um rifle e uma mira. Mas Kyle e os seus
companheiros de guerra reconhecem, assim como sua família e sua
nação, que vigiar tem um significado distinto. Vigiar é uma ética,
um modo de vida, para o cidadão/soldado.
Deve
ser duro ter tentado furiosamente por tantos anos, assim como os
esquerdistas do ocidente o fizeram, desconstruir e desvalorizar a
realidade, e então encontrar tantos americanos rejeitando o trabalho
de sua vida como se este nunca tivese existido. Mas milhões de
americanos o fizeram.
* * * * *
Qual a motivação da campanha feita pela esquerda a favor da retirada das tropas americanas do Iraque? Houve a proliferação do terrorismo no Ocidente após o atentado de 11 de setembro?
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Qual a motivação da campanha feita pela esquerda a favor da retirada das tropas americanas do Iraque? Houve a proliferação do terrorismo no Ocidente após o atentado de 11 de setembro?