Os
meninos estão se arrastando
Discretamente,
alguns educadores irão lhe dizer que os meninos, e não as meninas,
são o sexo frágil. Em 1997, eu conheci o presidente do Conselho de
Educação de Atlanta, Geórgia. Quem está indo melhor nas escolas
de Atlanta, as meninas ou os meninos? Perguntei “As meninas”, ele
respondeu, sem hesitar. Em quais áreas? “Em todas as áreas que
você citar.” Um diretor de uma escola ensino médio da Pensilvânia
falou sobre a condição dos meninos em sua escola: “Estudantes que
dominam as listas de evasão, de suspensão, de reprovação e outros
índices escolares negativos são homens, em uma proporção ampla.”
Três
anos atrás, a Scarsdale High School, no Estado de Nova York,
realizou um seminário sobre igualdade de gênero para seu corpo
docente, em que foi repetida toda aquela história de “as meninas
estão sendo prejudicadas”, com uma notável diferença: um
estudante fez uma apresentação na qual ele demonstrou evidências
sugerindo que as meninas da Scarsdale High School estão bem à
frente dos meninos. David Greene, um professor de estudos sociais,
pensou que o estudante devia estar enganado. Porém, quando ele e
alguns outros colegas analisaram os padrões do departamento de
avaliação, viram que o estudante estava certo. Greene descobriu
que, nas turmas de estudos sociais do Programa de Colocação
Avançada, havia pouca ou nenhuma diferença nas notas dos meninos e
das meninas, mas, nas turmas normais, as meninas estavam se saindo
muito melhor. Ele também descobriu, a partir do diretor de esportes
da escola que os times femininos tem tido mais êxitos em competições
contra outras escolas do que os times masculinos. Dos 12 atletas da
Scarsdale High School nomeados como atletas All-American nos últimos
10 anos, por exemplo, 3 eram garotos e 9 eram garotas. Greene
saiu da escola em um cenário de completo desacordo com a visão
preconceituosa dos diretores: as meninas são ambiciosas e os
meninos, relativamente descontentes, estavam dispostos a se contentar
com sua mediocridade.
Como
todas as escolas, a Scarsdale
High School foi fortemente influenciada pelo clima de crise feminina.
A crença de que as meninas são sistematicamente privadas imperou no
Conselho de Igualdade de Gênero da escola; essa é a razão pela
qual a escola oferece aulas eletivas especiais sobre o tema. Greene
tentou cautelosamente falar sobre a má performance dos meninos com
seus colegas. Muitos deles admitiram, que nas turmas em que eles
lecionavam, as meninas pareciam se dar melhor que os meninos, mas
eles não viam tal fato como uma parte de uma ampla tendência.
Depois de muitos anos ouvindo sobre as emudecidas e prejudicadas
garotas, a simples insinuação de que os garotos não estavam indo
tão bem quanto elas não foi levada a sério mesmo pelos professores
que viam isso acontecer com seus próprios olhos durante as aulas.
Comprometimento
Escolar
Um
artigo de 1999 do Congressional
Quarterly Researcher sobre
o desempenho acadêmico de homens e mulheres chama atenção para uma
experiência familiar comum: “As filhas querem agradar seus
professores ao ficar mais tempo na escola, ajudando em projetos,
assistindo mais aulas e fazendo os deveres de casa da forma mais
caprichada possível, já os filhos fazem as tarefas de casa depressa
para assim poderem brincar, não se importando como os professores
verão seu trabalho descuidado.” Na linguagem técnica dos
especialistas em educação, as meninas são academicamente mais
comprometidas. O comprometimento escolar é uma medida essencial para
o sucesso do estudante. O Departamento de Educação dos Estados
Unidos avalia o comprometimento estudantil pelos seguintes critérios:
-
Quanto tempo os alunos dedicam aos deveres de casa a cada noite?
-
Eles vão à aula preparados e aptos a aprender? (Levam livros e outros materiais? Fizeram todo o dever de casa?)
Que
os meninos são menos comprometidos com a escola que as meninas já
havia sido bem observado pelo Departamento de Educação nos anos 80
e 90. Maiores porcentagens de meninos do que de meninas relataram que
“geralmente” ou “frequentemente” vão à escola sem o
material necessário ou sem ter feito o dever de casa. Levantamentos
nas turmas de 4º e 8º
ano do ensino fundamental e 3º ano do ensino médio
registraram meninas consistentemente relatando que elas fazem mais as
tarefas que os meninos. No 3º
ano do ensino médio, eles
são 4 vezes mais propensos a não fazerem os deveres de casa do que
elas.
Aqui
nós temos uma disparidade entre os sexos genuinamente preocupante,
com os meninos bem atrás das meninas. Essa é a disparidade sobre a
qual professores, pais, diretorias escolares e políticos devem se
preocupar. O comprometimento escolar talvez seja o mais importante
requisito para o sucesso acadêmico, mas os meninos com menor
comprometimento não são citados nos seminários e oficinas sobre
igualdade por todo o país. De fato, a chique porém falsa diferença
de autoestima continua a ser a preocupação dominante – diferença
que a AAUW, em sua busca para “saber mais” sobre as descobertas
de Gilligan, exige que seja divulgada.
Existem
alguns meios já testados de reestimular os meninos, melhorar seus
hábitos escolares e instigá-los para o aprendizado e para um melhor
desempenho (discutirei acerca do que funciona para eles nos próximos
capítulos). Mas enquanto os problemas desses jovens não forem
reconhecidos, eles não poderão ser resolvidos, e enquanto não
forem resolvidos, outra disparidade educacional provavelmente
persistirá: em comparação aos garotos, muito mais garotas entram
nas universidades.
A
disparidade no ensino superior
O
Departamento de Educação dos Estados Unidos relatou que em 1996
havia 8,4 milhões de mulheres e apenas 6,7 milhões de homens
matriculados nas universidades, e também demonstrou que essa
vantagem aumentará ainda mais para a próxima década. De acordo com
uma previsão, em 2007 haverá 9,2 milhões de mulheres nas
universidades e 6,9 milhões de homens.
As
feministas inventam argumentos engenhosos e oportunistas para
explicar por que o maior número de mulheres nas faculdades não deve
ser considerada uma vantagem para o sexo feminino. De acordo com a
ensaísta feminista Barbara Ehrenreich, “Uma das razões pelas
quais poucos homens estão frequentando as universidades talvez seja
porque eles acham que podem se dar bem a vida sem um diploma de curso
superior; em outras palavras, eles continuam tendo uma grande
vantagem sobre as mulheres na fatia do mercado de trabalho que não
exige uma educação formal.”
Ehrenreich
está insinuando que um garoto de 17 ou 18 anos que está próximo de
se formar no ensino médio, sem planos de cursar uma faculdade, pode
continuar em melhores condições do que a futura universitária
sentada ao lado dele. Talvez exista uma minoria de estudantes do
ensino médio que sejam empreendedores, para a qual essa afirmação
é verdadeira, mas para a grande maioria dos meninos um curso
superior permite a entrada na classe média – sem contar os
benefícios pessoais de uma graduação.
Nos
últimos anos, o valor econômico de um curso de nível superior
aumentou consideravelmente. Um economista do Instituto Americano de
Empresas, Marvin Kosters, quantificou a tendência: “No ano de
1978, o salário médio de um adulto graduado em uma universidade era
mais ou menos 25% maior do que o salário de uma pessoa que possuía
apenas o nível médio. Por volta de 1995, a diferença tinha mais
que dobrado para um salário médio mais de 50% maior para o
trabalhador com nível superior.”
Alguém
deve ter percebido que os meninos estavam ficando para trás. A
disparidade no ensino superior era uma tendência perigosa e
verdadeira. Mas ao mesmo tempo em que as meninas estavam superando os
meninos de uma forma incrível, as feministas do Departamento de
Educação, da AAUW, do Wellesley Center e da Ms. Foundation
escolheram declarar a crise da “menina prejudicada”. Durante os
anos seguintes, a diferença entre os sexos nas universidades
continuou a crescer, mas a atenção da população americana e do
governo foi direcionada para as “meninas mal servidas”.
Porque
os meninos se dão melhor nos testes?
As
feministas não podem negar plausivelmente que as meninas tiram
melhores notas, são mais comprometidas com a escola e que agora são
o sexo dominante nas universidades. Sendo assim, elas apontam para as
diferenças psicológicas e sociológicas: diferenças na autoestima,
na autoconfiança e no número de perguntas durante a aula. Mas isso
tudo, como nós vimos, não resiste ao escrutínio. Existe um
argumento melhor sendo utilizado pelos defensores da crise feminina
que é baseado em um dado correto: os meninos conseguem melhores
pontuações em quase todos os
testes padrões importantes, especialmente nos testes considerados
mais difíceis, como o Scholastic
Aptitude Assessment Test (SAT)
e
os testes de admissão para os cursos de direito e medicina, e de
pós-graduação.
Em
1996, escrevi um artigo para o Education
Week relatando
as várias formas pelas quais as meninas estavam tomando a frente dos
meninos nas escolas e universidades. Se aproveitando dos dados que
sugeriam que os meninos estavam se saindo melhor do que as meninas,
David Sadker, em uma resposta, escreveu: “se as meninas estão indo
bem na escola, como Christina
Hoff Sommers diz,
então esses testes estão totalmente errados.” Os garotos, de
fato, tendem a se dar melhor nos testes que as meninas. No SAT de
1998, eles tiraram 35 pontos (de 800) a mais que as meninas, 7 pontos
a mais em inglês. Sadker está certo ao insinuar que as notas um
pouco maiores dos meninos são uma demonstração de seu status
privilegiado?
A
resposta é não. Um olhar atento ao grupo de estudantes que fizeram
o SAT e outros testes do tipo revela que as notas mais baixas das
garotas tem pouco ou nada a ver com preconceito ou injustiça.
Certamente, elas nem mesmo significam menos resultados positivos para
as garotas. Primeiramente, uma maior porcentagem de meninas
participam do SAT (54%, contra 46% de meninos). Além disso, de
acordo com um estudo da College Board, muito mais meninas das
“categorias de risco” fazem os testes, comparado com os meninos.
A saber, meninas de lares de baixa renda, ou que possuem pais que
nunca concluíram o ensino médio e/ou fizeram uma graduação, fazem
o SAT em maior número do que os meninos na mesma situação. “Essas
particularidades”, diz o estudo, “estão associadas com as notas
menores do que a média do SAT”.
Em
outras palavras, devido aos meninos em situação de risco não
fazerem o teste enquanto as meninas na mesma condição tendem a
fazê-lo, a pontuação média feminina é menor. Ao invés de usar
erroneamente as pontuações do SAT como evidências do preconceito
contra as meninas, os pesquisadores devem esse preocupar com meninos
que nunca comparecem aos testes que eles precisam fazer caso queiram
possuir um melhor nível educacional.
No
entanto, outro fator externo distorce nos resultados dos testes de
forma que parece que ele favorece os meninos Nancy Cole, presidente
do Serviço de Testes Educacionais, chama isso de “fenômeno de
dispersão”: Em praticamente todos os testes de inteligência e de
desempenho, as notas dos homens ficam mais dispersas de que as das
mulheres nos extremos: há mais homens prodigiosos e também há mais
homens com menores habilidades. Ou, como o cientista político James
Q. Wilson uma vez disse, “Existe mais homens entre os gênios, e
mais homens entre os idiotas.”
Devemos
também levar em conta que os jovens do sexo masculino dominam as
listas de evasão e de reprovação, e possuem maior dificuldade de
aprender. Esses estudantes raramente participam de testes de alto
nível. Por outro lado, os meninos aplicados que levam a sério a
escola apresentam resultados desproporcionalmente acima da média. Os
ativistas pela igualdade de gênero como Sadker devem ser coerentes
em sua lógica: se o menor número de meninas entre as melhores notas
é uma evidência de uma “injustiça” para com elas, o grande
número de meninos entre as menores pontuações e deve ser
considerada uma evidência de “injustiça” para com eles.
Suponha
que nós estivéssemos direcionando a nossa atenção para os 2/5 de
estudantes enormemente motivados do ensino médio, que participaram
voluntariamente do SAT ao invés de considerar uma amostra realmente
representativa dos estudantes americanos. Como se compararia as
meninas e os meninos, então? O Programa de Avaliação Nacional do
Progresso Educacional (NAEP), iniciado em 1969 e gerido pelo
Congresso Americano, oferece a melhor e mais compreensiva avaliação
do desempenho dos estudantes de todos os níveis de habilidade. Pelo
programa da NAEP, uma grande amostra científica de 70.000 a 100.000
estudantes de 44 estados americanos têm suas habilidades em leitura,
escrita, matemática e ciências testadas aos 9, 13 e 17 anos (A
escala de pontuação da NAEP varia de 0 a 500). Em 1996, os meninos
de 17 anos superaram as meninas por 5 pontos em matemática e por 8
pontos em ciências, enquanto as elas os superaram por 14 pontos em
leitura e por 17 pontos em escrita. Ao longo das últimas duas
décadas, as meninas estiveram se aproximando dos meninos em
matemática e ciências, enquanto eles continuam a ficar muito atrás
em leitura e escrita. Essa é, portanto, uma diferença que não está
diminuindo.
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