No
Reino Unido, não existe ninguém como Carol Giligan, Mary Pipher, ou
uma instituição como a AAUW. Portanto, não surpreende o fato de
que lá a verdade objetiva acerca da má performance masculina nas
escolas seja divulgada para a população. Por mais de uma década,
os jornais britânicos relatam o incômodo deficit escolar dos
estudantes. O Times, de
Londres, chamou atenção para a possibilidade de estar se formando
“uma subclasse de homens sem habilidades, permanentemente
desempregados.” “O que há de errado com os meninos?”.
Questionou o Glasgow Herald. O
The Economist se
referiu aos homens como o “segundo sexo do futuro”. No Reino
Unido, a população, o governo e as instituições de ensino estão
bem cientes do crescente número de meninos com desempenho abaixo da
média, e estão buscando formas de como ajudá-los. Eles deram um
nome para esses garotos - “grupo náufrago” - e chamam o que
aflige esses jovens de “ladismo”.
A
mais impressionante diferença entre o Reino Unido e os Estados
Unidos talvez sejam as políticas governamentais. Enquanto o governo
britânico está combatendo e lidando corretamente com o fraco
desempenho acadêmico masculino, considerando-o um sério problema
nacional, as autoridades americanas estão se comportando como uma
linha auxiliar da AAUW, seguindo obedientemente as diretrizes
políticas das feministas, incluindo as iniciativas para aumentar a
autoestima das meninas e ajudá-las a reencontrar suas “vozes”. O
Departamento de Educação dos Estados Unidos distribuiu mais de 300
panfletos, livros e anúncios sobre igualdade de gênero, e nenhum
deles tinha o objetivo de ajudar os meninos a alcançar a paridade
com as garotas nas escolas do país. Enquanto o drama dos meninos vem
crescendo, sem qualquer expectativa de melhora, os programas que
visavam ajudar as meninas só se multiplicavam. A mais nova
iniciativa se chama Girl Power! Em 1997, a secretária de Saúde e
Serviços Humanos dos Estados Unidos, Donna Shalala, lançou o Girl
Power! para promover a conscientização da população a respeito da
desmoralização das meninas americanas. A Fundação Nacional de
Ciência gasta milhões de dólares a cada ano ao oferecer programas
de ajudar as meninas em ciências e matemática. Já a ideia de se
ministrar aulas extras de leitura e escrita especialmente para os
meninos nunca sequer passou pela cabeça das feministas. Os garotos
são o gênero em risco, mas ninguém está pedindo dinheiro para
enfrentar esse déficit acadêmico.
Nesse
clima tão inóspito para os meninos, os educadores americanos que
desejam ajudá-los se deparam com enormes obstáculos. No Condado de
Prince George, em Maryland, próximo a Washington D.C., há um grande
número de escolas públicas, onde a maior parte dos alunos são
negros e pobres. De acordo com um membro da direção de uma das
escolas, muitos dos meninos “estão por baixo em todos os
sentidos, em todos os indicadores econômicos e em todos indicadores
de desenvolvimento.” Para ajudar esses garotos, o condado organizou
uma “Iniciativa de Desempenho para Homens Negros”. No início dos
anos 90, aproximadamente 40 homens jovens se encontravam duas vezes
por mês com um grupo de profissional de homens para tutoria e
aconselhamento. O programa foi muito popular e efetivo, mas em 1996
ele foi radicalmente reestruturado por ordem do Gabinete de Direitos
Humanos do Departamento de Educação. Segundo o Departamento, o
programa discriminava as meninas. A mulher que presidia a comissão
de diretorias das escolas do Condado de Prince George ficou muito
satisfeita: “O ponto aqui é que nós estamos prejudicando as
estudantes, e não deixaremos isso acontecer de novo.”
Nos
Estados Unidos, as ideias propostas para ajudar a população
masculina normalmente são ceifadas antes mesmo de terem a chance de
criar uma raiz. Em 1996, as escolas públicas da cidade de Nova York
fundaram a Escola de Liderança para Jovens Mulheres, uma escola
pública só para meninas em East Harlem. A escola é um grande
sucesso e muitos veículos de comunicação, incluindo o The
New York Times, pressionaram
então ao então secretário de educação Rudy Crew para que também
fosse criado um “centro de excelência para os meninos”.
Crew rejeitou a ideia de uma
escola apenas para garotos nos mesmos moldes da Escola de Liderança,
se referindo a ela como uma forma de reparo às práticas
educacionais do passado, que negligenciavam as garotas, o que faz com
que escolas exclusivamente femininas sejam moralmente admissíveis.
Como ele disse ao Times,
“Essa é uma situação onde a existência de colégios só para
meninas são uma importante afirmação sobre viabilidade da educação
das meninas, e quero continuar a fazer essa afirmação.”
Presumivelmente, tal afirmação perderia toda a sua força e sentido
se uma escola exclusivamente masculina fosse mantida ao mesmo tempo.
Que
mensagem esse tipo de declaração passa aos meninos de East Harlem?
Para começar, mulheres afro-americanas superam enormemente os homens
afro-americanos em números de estudantes nas instituições de
ensino superior. De acordo com o Jornal dos Negros na
Educação Superior, “As
mulheres negras nos Estados Unidos respondem por quase todas as
conquistas de negros inscritos em universidades pelos últimos 15
anos.” Em 1994, por exemplo, as mulheres afro-americanas obtiveram
63% dos diplomas de bacharelado de 66% dos de mestrado obtidos pelos
afro-americanos naquele ano. Nas universidades historicamente negras,
as mulheres abrangem 60% das matrículas, e compõem 80% do quadro de
honra, e as disparidades estão aumentando.
O
que aconteceu com os homens negros entre as décadas de 80 e 90? Essa
seria outra questão suscetível a uma análise minuciosa durante uma
conferência da PEN, e deveria ter sido levada a sério pelo
secretário Crew. Mas, nos ciclos de discussão sobre igualdade de
gênero, essa questão é de menor importância, se não um tabu.
A
verdade sobre os meninos
A
despeito do clima anti-masculino criado pelas feministas, a
preocupação para com a situação dos garotos estava aumentando, e
no fim dos anos 90 o mito da menininha frágil estava sendo
desmascarado. Artigos sobre os déficits educacionais masculinos
começaram a surgir nos jornais americanos com manchetes muito
parecidas com essas, que apareciam na imprensa britânica: “As
universidades americanas começam a se perguntar, para onde foram os
homens?”, “Como os garotos perderam para o poder feminino”,
“Pesquisas mostram que as meninas tomaram a dianteira nas escolas”,
e “Meninas superam os meninos em performance escolar.” Estudos
mostrando a existência de uma grande disparidade de gênero na
educação desfavorável aos meninos começaram a emergir. Foi nessa
época que a mídia tomou ciência do que estava ocorrendo.
A
associação Horatio Alger, uma organização que há 50 anos se
dedica à promoção e à afirmação da iniciativa individual e do
“sonho americano”, publicou uma pesquisa sobre rendimento escolar
em 1998. O estudo contrastou 2 grupos de estudantes: os altamente
“bem sucedidos” (aproximadamente 18% dos estudantes americanos) e
os “desiludidos” (aproximadamente 15% dos estudantes). Os
estudantes do grupo bem sucedido trabalham duro, escolhem assistir às
aulas mais desafiadoras, fazem do dever de casa uma prioridade, tiram
boas notas, participam de atividades extracurriculares e sentem que
seus professores se preocupavam com eles e os ouvem. De acordo com o
relatório, o grupo bem sucedido é composto em 63% por meninas e em
37% por meninos. Por outro lado, os estudantes desiludidos são
pessimistas a respeito de seu próprio futuro, tiram notas baixas,
possuem o menor contato possível com seus professores, e acreditam
que “não existe ninguém a quem eles possam pedir ajuda.” O
grupo desiludido poderia ser acertadamente caracterizado como
desmoralizado. Segundo o estudo, “aproximadamente 7 em cada 10
estudantes desse grupo são meninos.”
Na
primavera de 1998, Judith Kleinfeld, uma psicóloga da Universidade
do Alaska, publicou uma minuciosa crítica sobre as pesquisas das
feministas denominada The myth that School Shortchange
Girls: Social Science in the Service of Deception.
Kleinfeld expôs
vários erros e concluiu que a
pesquisa da AAUW e do Wellesley Center sobre as garotas era pura
“política travestida de ciência.” O relatório de Kleinfeld
levou muitos jornais, incluindo o The New York Times
e o Education Week, a
reconsiderarem suas antigas declarações acerca das meninas que
estavam em situação trágica.
A
AAUW não respondeu adequadamente a nenhuma das significativas
objeções feitas por Kleinfeld: Ao invés disso, sua presidente,
Maggie Ford, reclamou na coluna de cartas do The New York Times
que Kleinfeld estava “reduzindo os problemas de nossas crianças
a essa insignificante disputa de 'quem está pior, os meninos ou as
meninas?' que não nos leva a lugar nenhum.” Para a líder de uma
organização que passou quase uma década promovendo a ideia de que
as meninas americanas estão sendo “prejudicadas”, esse
comentário é um tanto surpreendente.
A
diretora executiva da associação, Janice Weinman, deu uma
explicação mais sincera para a persistente negligência dos
problemas masculinos pela AAUW: “Nós somos a Associação
Americana de Mulheres Universitárias”, disse ela, “e nossa
missão é cuidar da educação de meninas e mulheres.” Essa seria
uma justificativa plausível, caso as feministas não tentassem
incansavelmente promover a ideia de que os meninos estavam
injustamente em vantagem, enquanto as meninas eram neglicenciadas. A
AAUW não simplesmente ignorou os problemas dos garotos, ela também
se recusou a reconhecê-los, treinando professores, durante sua
Conferência de Lideranças, para que se defendessem de
questionamentos a respeito dos déficits masculinos, e comparando
aqueles que questionassem o preconceito contra as meninas a
“revisionistas do holocausto” em suas publicações.
Nesse
contexto, deveria se salientar que, enquanto Gilligan e a AAUW
criaram e divulgaram com sucesso o mito da menina emudecida, tal mito
jamais se fez presente entre os próprios estudantes. A AAUW estava
ciente de que a maneira pela qual os estudantes pensavam em si mesmos
e em seus professores não estava de acordo com o discurso oficial
apresentado ao público. Analisando as opiniões e experiências de
estudantes de ambos os sexos, a AAUW descobriu que são os meninos
que se sentem rejeitados e, as meninas que se sentem beneficiadas
pelos professores. Mas, evidentemente, os seus líderes não
consideraram como missão da associação a publicação dessas
descobertas nos folhetos que anunciaram a grandiosa tragédia
feminina.
Mas
será que algo de valor pode ser retirado dessa crise feminina criada
em laboratório? Existem alguns pontos positivos. Pais, professores e
diretores estão agora mais atentos às dificuldades das meninas em
matemática e ciências, e oferecem mais apoio às participações
delas em equipes esportivas. No entanto, esses benefícios poderiam e
deveriam ter sido obtidos sem que se promulgasse um mito sobre
meninas incrivelmente diminuídas ou se apresentasse os meninos como
o sexo injustamente privilegiado.
Um
garoto hoje, mesmo não tendo nenhuma culpa, acredita que ele próprio
cometeu o crime de “causar prejuízo” às meninas. Já a
supostamente emudecida e maltratada garotinha sentada ao lado dele
tem maiores chances de ser uma boa aluna. Ela não é apenas mais
articulada, mas também é uma pessoa mais madura, compromissada e
equilibrada. Ele talvez esteja embaraçosamente ciente de que as
meninas são mais suscetíveis de irem para as universidades, e
talvez ele acredite que seus professores preferem estar rodeados de
meninas, dando atenção a elas. Ao mesmo tempo, ele está
embaraçosamente ciente de que ele é considerado membro de um
“gênero dominante” injustamente privilegiado.
Os
meninos americanos estão sendo deixados para trás por seus pares
femininos, academicamente falando. Para ajudá-los, o primeiro passo
a ser dado deve ser a demonstração de repúdio ao feminismo
militante, que distorce a questão ao inventar
mil e uma mentiras a respeito das diferenças entre os sexos nas
escolas. O próximo passo é fazer todo o esforço possível para que
seja feita uma indispensável análise, com dados honestos e
objetivos, sobre a natureza e as causas dessas diferenças. No
entanto, nenhum passo pode ser dado enquanto a falaciosa campanha
feminista ainda possuir qualquer tipo de crédito com a opinião
pública.
A
mídia e as instituições de ensino podem ajudar divulgando os
estudos do Departamento Americano de Educação, da MetLife, do
Instituto de Pesquisa e da Associação Horatio Alger, bem como as
pesquisas acadêmicas feitas por Larry Hedges e Amy Nowell, por
Judith Kleinfeld e por Valerie Lee e seus parceiros. Todos esses
estudos expõem as mentiras disseminadas pelas feministas, e todos
mostram que o termo “meninas prejudicadas”, tão usado por elas,
não passa de uma piada.
É
chegada a hora da população americana tomar ciência das
descobertas que suplantam e contradizem a visão normalmente aceita
de que as meninas estão academicamente atrás dos meninos. Devido ao
fato da população britânica ser melhor informada acerca de seus
jovens, as escolas britânicas deram um primeiro passo importante ao
criar programas com o objetivo de tirar os meninos da categoria de
“desiludidos” e lidar com seu insucesso crônico. Nós temos
muito a aprender com tais iniciativas e com a saudável e sensata
abordagem feita para resolver um problema que eles corretamente veem
como uma emergência nacional. No entanto, até o momento, os
problemas dos meninos são invisíveis.
O
que está por vir?
Os
teóricos do gênero e ativistas que no passado tinham pouco a dizer
sobre os meninos recentemente começaram a nos dizer que eles também
precisam de atenção – não porque as escolas estão sendo
negligentes com as necessidades acadêmicas deles, mas porque, “sob
o patriarcado”, homens são familiarizados com comportamentos
masculinos destrutivos. Especialistas de gênero de Havard,
Wellesley, Tufts e das principais organizações feministas acreditam
que nossos meninos e homens continuarão a ser sexistas (e
potencialmente perigosos) a não ser que esse mal convencional seja
arrancado deles. Pode ser que seja tarde demais para mudar os
adultos: mas os meninos, por outro lado, ainda podem ser salvos –
desde que sejam doutrinados desde cedo. Tal tipo de pensamento é um
desafio que muitos dos defensores da “igualdade” estão ansiosos
para enfrentar. Como uma importante oradora em um seminário de
especialistas em igualdade de gênero disse à sua audiência, “Nós
temos uma incrível oportunidade, crianças são tão maleáveis...”.
A
crença de que os meninos estão sendo erroneamente “masculinizados”
está inspirando um movimento para “construir a infância” de
modo que os garotos se tornem menos competitivos, mais expressivos
emocionalmente e mais sensíveis - em outras palavras, mais parecidos
com meninas. Gloria Steinem resume a visão de muitas feministas
quando diz: “Nós precisamos criar os meninos como criamos
meninas”.
A
agenda feminista não é uma utopia fantasiosa. Na verdade, como
demonstrarei, um movimento para a destruição da masculinidade já
está em andamento, obtendo razoável sucesso. E, como muitas outras
bem-intencionadas mas mal concebidas reformas e revoluções, esse
movimento tem enorme potencial para fazer de muitas pessoas - nesse
caso, milhões de jovens - infelizes e miseráveis.
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